Escher

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sexta-feira, novembro 11, 2011

A cidade

Quando é que as coisas passam, eu me pergunto, mas não é apenas uma pergunta, é sim, e sem a menor presunção, tudo aquilo que se vive, a qual não se pode escapar, é aquilo que se enterra em suspiros de dor, e desce, e desce... E quão escuro pode ficar, me perguntam, mas eu não sei responder, e me chamam de fracassado. È tolice acreditar que se mudam tais coisas, de tal e tal condição, apenas fazendo assim, assim e assado, no entanto, nunca nos deixam em silêncio. O mais puro silêncio jamais compartilhado, o que é óbvio, sim, os estranhos nunca se esquecem do conselho ou da lição ou da canção que entoou em homenagem a pátria, ao lar, e aos prodígios de um herói qualquer. E mesmo no escuro do qual não sei mensurar, e mesmo sem resposta, em meio à balbúrdia, eu posso escolher as flores que vão brotando, e vão crescendo, fanerógamas, abertas, comerciantes natas, já que quando as cheiro, em aroma qualquer encontro minha paz. Mas isso é longo, e certamente, é sonho.
Se eu sei? Ora, se eu sei... A mim não é dado saber coisas tão longínquas que meu cérebro se espreme tentando vê-las, e eu me exprimo da forma que posso, e isso pode ser bem pouca coisa, que de tão pouca, em pouca em pouca, se constrói uma vida inteira, pequena, mas uma vida. Como posso explicar... Houve aquela vez em que eu me fiz perdido, não, eu me vi perdido, pois eu realmente me vi. E era eu, jamais você e isso faz muita diferença, e chegam a doer às diferenças que se esgueiram e nos perturbam, que se expandem e nos cobram, que se fazem delicadas e nos assassinam. É a realidade. Não acredita? Ah, não pense que me passo por um dramático, mas não ligo, nem me importo, sei que falas isso em meio à calmaria, mas na solidão de si, quando nem você mesmo lhe faz companhia, aí então você sente nojo, aí então você desbota. E se não desbota, então se deve ao simples fato de que não pensa, e se pensa, é provável que não sinta, e caso sinta, não é daquela sensibilidade que nos toca. E eu toco, mas é pouco intenso, nem agudo nem grave, e de compasso, e de estalos, faço ritmo, e encerro.
Não era para estar surpreso, é assim que se terminam as histórias, pelo menos as reais, as vidas acabam, as lagrimas alcançam a boca, sorvidas lágrimas, má digeridas. As gotas caem da chuva lá fora, e escorrem por onde querem, e carregam o que puderem, e nada nesse mundo é mais distante da vida do que os pingos da chuva. É assim que se termina um romance, o principezinho diz um te amo e a princesinha aceita de bom grado, e então comemoram com a ebriedade que os vivos possuem. Se torcem, se tecem, e a vida continua, com novo material, que perpassa o mesmo filme. É assim que os filmes acabam, e o cinema se torna vazio. As pessoas saem, caminham, ouvimos os passos, as vozes lamuriosas e desconcertadas que descem, que descem... E eu sei que quando a luz apagou e todos conseguiram dormir, nunca na cidade se mostrou momento mais feliz... A cidade nunca esteve tão feliz!