Escher

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quinta-feira, junho 02, 2011

Suprema verdade interior (e um tanto quanto pornográfica)

Eu não sou Profeta de mim mesmo
Coisa tosca oracular
Crença moribunda
Brota do cu de algum santo a achar
Que passando por ele a passar
No interior se encontra florescendo
A computabilidade milenar
Dos segredos miseráveis que a flor de lótus faz dançar
É o universo
Desabrochando
Pra um dia brochar

Rima tosca que repete a mesma rima
Que se estende, rima fosca a gastar
Minha sensibilidade dende'cá
Que tosca, fosca, revela
A Vida inteira que dende'cá
Universo algum habita
Além de fluidos científicos
Hemoglobinas, saliva, porra
E flatos leves ancestrais
Bactérias, fungos
Virus e karma
Menos sabedoria milenar
Menos luz menos divino
Que profeta de mim mesmo
É coisa que me faz brochar
Enquanto tua bunda
Me deixa teso, ensaiando entrar
Não em meu interior
Mas na tua flor de lótus, que de universo
Pouco há
Alem da universal necessidade de dar
Pra primeira bicha dotada
Que em ti quiser gozar

Ingeometricamente cabralino
No foda-se ao lyrismo
No foda-se ao zen-budismo
No foda-se concretino
À Morte e Vida Severina
No louvor à geometria
Do concreto, da argamassa
Da labuta e da traça
Do tijolo bem colocado
Da parede com a grade
Que é o interior
Minha solitária solitária
Minha cela só visitada
Por teu corpo que lateja
Que pulsa  e goza
Me enterra
No prazer que vem e vai
Nesta senda
Cíclica de tua glande
Em minha tenda

Minha cela não tem universo
Não tem sabedoria, não tem renda
Meditação
Ou ondas alfa
Pra sábio despertar
Pra luz e flor
Que é bela e paz
Cáquidentro
É luta louca
Entre coliformes fecais
Porta adentro nas regiões anais
Que no julgo do Papa
São abissais
                   
Meu interior
Teu interior
Meu e teu
Teu no meu
Tesão tesão
Orgasmo e tudo mais
Menos luz e verdade
Menos a sabedoria do universo
Menos a ordem cósmica
Salutar
Só Bocage
Só delícia
Só tua língua na minha vida
Só teu hálito
Teu espasmo
Tua força
Que de quatro
Me deixou te amar
Me amarras a teu olhar
Que dentro nada há
Que porta alguma há
Mas é a beleza em minha vida
Agora perdida

Ah, meu interior
Cheio de parco lirysmo
Que jamais me tornou ryco

Meu interior
Minha bunda
Estacionamento rotativo
Nois dois juntos feito rima
Nois dois na pista
Na rua
Na vida
Delícia

Perdida a rima
Perdida a linha
Perdida comida
Perdida é a alma
Que acha que em si mesmo
Há substrato pra poesia
Há amor e alegria
Que felicidade em si mesmo
É coisa brega e vazia
Jamais faria um Kadinski
Jamais desperta consciência
Que não seja uma mentira
Sobre o que você quer e desquer
Quando deita sozinho
Sem gemer

Meu interior é encantado
Safado
Amado
Fudido
Cagado

Ah, meu interior
Ornado
Tocado
Beijado
Até mesmo
Eu mesmo
Entraria em mim mesmo
Pra ejacular borboletas pelo espaço

Ah
Meu interior
Visitado
Gozado
Até mesmo
Desprezado

Meu interior
Passa pelas bandas
Que cantam meus gemidos
Frutos de delíquios torpes
E até ternas sandices

Meu interior
Palco e lar
Onde no teatro teu pau treme e goza A
Dançar

Meu interior Leminski
Tesão que feito lótus
Faz você desabrochar

Desabrochar

Brochar

Amar

Ar

A

NOTA: existe uma longa tradição filosófica que discute o conceito de externo e interno, exterior e interior, objetivo e subjetivo. O que fiz foi brincar com a ideia sagrada de alma, e com a ideia animalesca de corpo animal e fisiológico, junto a discussão de interior e exterior. O que afinal existe dentro de nós? Almas, sentimentos, pulsões, visceras? O que é a interface? Uma pele, um buraco, um portal, uma conexão, um caminho especial? Mas o poema ficou uma merda, vamos convir kkkk